Por que quero ser presidente do Brasil?
Jornal O Globo – Domingo – 04/07/2010
Serra
Eu quero ser presidente do Brasil para materializar um compromisso que tenho desde a minha juventude, e ao longo de toda a minha vida pública: a abertura de oportunidades para os brasileiros, de todas as idades, de todas as regiões do país. Abertura de oportunidades na vida, para que as pessoas possam crescer, prosperar, para que as famílias sejam mais felizes. Parece idealismo? Não. Acho que a gente pode caminhar muito nessa direção. Estou convencido de que o Brasil pode mais. O Brasil já andou bastante nas últimas décadas, mas ele pode mais. Pode mais na segurança, que é uma área de muita preocupação para todos os brasileiros e brasileiras. A segurança é um problema grave no Brasil, e que tem ficado só por conta dos estados. Acho que o governo federal tem que entrar nessa área como corresponsável. (...) Outra área em que o Brasil pode e tem que oferecer mais à sua população é a saúde. (...) Há alguns anos eu fui ministro da Saúde. Demos um grande impulso na Saúde. Esse impulso, ao longo do tempo, esmoreceu. Não é que andou para trás, mas é que as necessidades andaram mais para a frente. E é muito importante. É uma coisa que dá para avançar muito.
Vou dar um exemplo: no Brasil do futuro, das oportunidades, nenhuma mulher de 45 anos pode se privar de uma mamografia, na questão do câncer dos seios. Por exemplo, essa tem que ser uma meta: todas no Brasil examinadas.
Dá para fazer? Eu sei que dá. Precisa ter recursos, (mas também) capacidade de organização, entusiasmo, eficiência.
(...) Outra área essencial para o nosso país é a educação e, principalmente, a educação para o trabalho. Ter escolas técnicas, e ter também formação profissional. (...) É possível também fazer cursos mais curtos para as famílias mais necessitadas. Por exemplo, aquelas que estão no Bolsa Família, que têm os seus jovens aí sem muita oportunidade para o futuro. Esse é, aliás, um programa que vamos reforçar e vincular à saúde, à educação, principalmente à educação também para o trabalho. São três áreas essenciais.
E duas delas, como a saúde e a segurança, têm muito a ver com um problema que envolve as duas áreas, que é a droga, que é o crack, que é um fenômeno nacional. (...) Outro aspecto fundamental, para mostrar que o nosso país pode mais, é a questão de infraestrutura — estradas, portos, aeroportos. Portos e aeroportos estão numa situação muito insuficiente para o nosso país. Por que eu quero ser presidente? Porque tenho a convicção de que posso ser decisivo num processo de avanço do Brasil. Pelo meu compromisso de vida, que vem desde a época em que eu fui dirigente estudantil morando, aliás, no Rio de Janeiro, presidente da União Nacional dos Estudantes. Depois quando fui secretário, deputado constituinte, senador, ministro do Planejamento, ministro da Saúde, prefeito de São Paulo, governador de São Paulo. Pode-se olhar minha vida para trás e vai-se constatar que é uma vida empenhada nessa direção, inclusive, por todas as coisas que eu materializei, que fiz acontecer no meu passado, e muitas delas, novas, eu quero fazer acontecer no futuro.
Dilma
Desde o dia 10 de junho, a campanha da candidata Dilma Rousseff foi procurada para que ela respondesse a apenas uma pergunta. O convite foi reiterado diversas vezes, desde então, mas ela se recusou a responder à pergunta, que seria apenas: “Por que quero ser presidente do Brasil?”
Marina
Ser presidente da República é a oportunidade de você juntar o que há de melhor no país a serviço do país. Quando eu penso em ser presidente da República, a primeira coisa que penso é isso: na produção que nós temos ao longo de todos esses anos, de séculos, do que foi acumulado positivamente, falando na economia, na cultura, na política, na ética, nas artes, na espiritualidade, e (penso) que tudo isso possa se encontrar num projeto que, com base naquilo que a tecnologia e a ciência podem nos suportar e nos dar de apoio, possa se colocar a serviço da melhoria da vida das pessoas, do lugar onde a gente vive, que é o Brasil, e como esse lugar pode contribuir com o mundo. E obviamente que, pensando assim de forma tão ampla, você tem que traduzir isso do ponto de vista prático.
E traduzir na prática para mim não é difícil, porque, ao longo desses 52 anos de vida, transitei de A a Z neste Brasil profundo. Sempre digo que conheço as sinas dos que foram entendidos como indigentes nos hospitais do Brasil. E conheço o banco mais precário da escola do Brasil, que foi o Mobral, que foi a fresta por onde eu entrei. E conheço as universidades mais importantes do Brasil, as instituições de pesquisa. E sei que o que falta para este país é construirmos as oportunidades certas para os diferentes segmentos da sociedade (...) para que possamos desenvolver nossas potencialidades como povo, como nação, como a oportunidade econômica, social e cultural. Então, ser presidente da República para mim é tudo isso. Obviamente que um desafio como este não é um desafio de uma pessoa.
É o desafio de um povo, onde uma pessoa se coloca a serviço (desse povo). Em primeiro lugar, com uma nova visão.
Uma visão nova de desenvolvimento, uma visão de economia que seja capaz de se pensar e integrar os fazeres dessa imensa diversidade brasileira. A economia é importante, mas ela se integra ao mundo das artes, da ciência, aos desafios sociais, aos desafios ambientais e culturais deste país. É como integrar tudo isso numa única equação que seja capaz de mudar o modelo de desenvolvimento, (...) de promover a inclusão e a justiça social, onde a educação possa se constituir como uma prioridade no decorrer do processo político. (...) E, ao mesmo tempo, onde o grande desafio é fazer com que os brasileiros e as brasileiras possam estar mobilizados em torno de um novo projeto. O Brasil vive o fechamento de um ciclo, que é esse ciclo de 16 anos, e está pronto para a abertura de novo ciclo. Da mesma forma que fomos capazes de abrir o ciclo da industrialização, com JK, hoje estamos aptos a abrir o ciclo da revolução na educação e tirarmos todo o atraso que um país como o nosso, que é uma potência ambiental, tem em relação ao conhecimento, à tecnologia, à inovação, e a integrar tudo isso ao melhor da tradição. Porque não vejo uma separação entre aquilo que o povo sabe como experiência e aquilo que o povo sabe como ciência. Então, pretendo fazer juntando essas duas coisas: tradição e modernidade numa mesma equação, para que a gente possa ter um Brasil mais justo, mais fraterno, mais democrático e feliz.
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